sábado, 31 de maio de 2008

A vida é uma enorme loucura...
Saber sentir não é fácil
e perdemos muitas vezes o sabor das coisas.
Mas hoje deste-me a seda leve
numa hora linda
e a tarde cresceu como nunca...
Fizeste-me lembrar
que houve um tempo
em que não podia amar-te mais,
porque não havia mais...
fizeste-me ver a pessoa que conheço
e amo ainda...
nas horas de seda como a de hoje.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Trazer-te-ei amanhã ainda comigo?...
Sorrirás no meu olhar?...
Serão as gotas do paraíso insistentes e loucas
ou tornar-se-ão pálidas, caducas e tristes
como o olhar de um cão abandonado
em pleno Verão?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Onde foi que perdemos o sorriso?
Respirava desejo...
um raio de sol...
e do nada chegou o rochedo.
Agora nada mais sinto senão sombras,
como quem vagueia sem saber onde mora...
Dá-me um pouco de mão
para eu achar a casa
e espalhar-me no amor
pequeno e meu...


Hoje caíu uma vela, ainda acesa, no meio da noite escura, para o chão de madeira do quarto. O mesmo quarto em que eu via televisão na vossa cama, entre vocês dois. A mesma cama de onde o pai depois me tirava e levava ao colo para o meu quarto. O mesmo pai que hoje pego eu ao colo quando o cérebro o engasga... Hoje caíu uma vela. Incendiou o chão. Daquele quarto. Também meu. Cheio de memórias quentes de infância. Que jamais ardem.
Sempre gostei de papoilas...
o efémero do vermelho baloiçante
a magia do sangue renovado a cada Verão,
não sabia porquê...
Hoje sei da luz suspensa
e deste ar que respiro,
desta música que não cessa
e do nome que rompe o dia
gritando bem alto a cor escarlate...
Fica sempre mais fácil quando somos dois a carregar...

segunda-feira, 26 de maio de 2008



Sois vós, palavras íntimas, pequenas e frágeis, que me libertam os sentidos

letras desenhadas em traços fechados, trémulas e matinais

assim como que a acordar a manhã adormecida no meu peito...


E é assim que me vou,

ao encontro da bondade

e de um céu de carícias,

à procura de respostas...

É assim que me abandono,

no meu cavalo vermelho

onde viajo inteira...

Onde tudo acontece,

até o que nunca chega a acontecer.


Amar-te e não te ter é como parir um nado-morto. É conceber um amor para a vida toda, senti-lo na pele desde as entranhas, modificar corpo e alma em seu nome, dedicar-lhe voluntariamente todo o nosso tempo na Terra... e depois morrer...


Cinzenta ficou a cor do mar, do céu e do sol. Cinzentos ficaram os meus dias e as minhas noites que não se distinguem. Cinzentas são as estrelas já sem luz e o meu quarto, outrora azul...


Pinta-me um quadro, amor. Enche-o de cores e diz que me amas. Beija-me a nuca, trinca-me e coça-me as costas.


Volta a pôr as cores no seu lugar, por favor... O azul no céu, o amarelo no sol, o vermelho no sangue... Sem cores a vida é apenas um monte de restos mortais...


Agarra, meu Rei, nas tuas cores e volta a espalhá-las nos meus dias.


As crianças gostam do arco-íris...

Hoje sonhei contigo. Tinhas ao pé de ti um cão enorme que não deixava que ninguém se aproximasse de ti. Tinhas um olhar triste. Muito triste. Tentei aproximar-me por vários ângulos mas nunca consegui...

Acordei com o rosnar do cão e o coração aos pulos. Tentei voltar a dormir mas era impossível. Não me saía da cabeça o teu olhar triste. Deu-me uma vontade louca de pegar no telefone e marcar o teu número. Mas já aprendi que não o devo fazer... correndo o risco de seres tu a rosnar-me...

Sou a favor da eutanásia também no amor.

O fim sem dor, com dignidade...

Com os devidos cuidados paliativos.

domingo, 25 de maio de 2008

Sou hoje outra e a mesma pessoa...
Sou hoje outra e a mesma pessoa. Por causa de tudo. E amo com apego tudo o que sou. Apesar de haver quem defenda que "amar com apego" é a negação do próprio amor e que só se ama incondicionalmente sem apego. Confesso não entender muito bem esse conceito. Não sou nenhum Abraão. Acredito que o apego é uma consequência natural do carinho e se isso nos faz menos cósmicos, não quero saber, porque nos faz seguramente mais humanos.
E foi assim que me apeguei a ti... primeiro o sorriso, depois o cheiro... e culminou com o toque, de todos o mais sagrado, o mais meigo, o mais nas entranhas saboreado... como não me apegar? Como não desejar este éter paradisíaco capaz de me arrebatar os sentidos? Como renunciar ao toque aveludado dos Deuses?!... Claro que me apeguei e me vinculei com todos os meus poros abertos aos teus. Porque a vida é para ser vivida em constante assombro. E mais vale desistir se assim não for.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Às vezes nada mais vale a pena senão o mar. E a sua lição de paciência compassada. A sua cor sublime, mitocondrialmente benéfica. E o seu aroma enebriante. Envolvente e profundo. Como todos deveríamos ser...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Este é o sítio
onde finalmente me encontro...
dou de caras comigo e mato saudades
do mar que toco,
das asas abertas a pique,
do vento na face,
do som da noite,
das maçãs frescas,
e do cheiro a leite
nas manhãs de sol...

Como posso viver sem a minha vida?...



Hoje a minha mãe dormiu com o meu pai. Tirou-o da cama de grades que o protege dele próprio e deitou-o na grande cama onde ambos se protegeram mutuamente a vida toda. Ela estava muito feliz... ele... jamais saberemos o que sentiu...

Dói-me o seu olhar vago, outrora onírico e raiado de uma luz colorida. Dói-me o seu silêncio. Dói-me a impotência de não o poder resgatar e trazê-lo para mim. Agarrar-lhe de novo a mão segura e pedir-lhe que nunca mais me largasse...

Sou apenas alguém que espera ser levado por um som...

Apenas as veias a transportarem, ao ritmo de uma sístole, o alimento das células. De todas elas. Que te pertencem, e consequentemente eu, como ser pluricelular que sou. Isto tudo para te dizer que cada uma das minhas células te respira. Ao ritmo de sístoles, de diástoles e de marés... umas vezes mais salgadas que outras...