quarta-feira, 29 de julho de 2009

O pai e a filha iam de mãos dadas. Dadas um ao outro. Ela dava-lhe a mão como que a pedir colo... ele dava-lhe a mão como se fosse uma casa... uma casa grande e segura onde tudo era bom e terno. E sorriam um ao outro de mãos dadas.
E assim foi sendo sempre... o tempo a passar e as mãos sempre dadas... a sorrirem.
Num dia triste o pai adoeceu e as mãos tolhidas do corpo doente já se não davam da mesma maneira. A filha beijava-lhe a testa como que a dar-lhe a mão. Dele, não se sabia se a recebia...
Num dia ainda mais triste em que o corpo não aguentava mais aprisionar a alma que se quer livre, a mão do pai abriu-se e a filha agarrou-a com força, como que a dar-lhe o que fosse preciso... Então do rosto do pai escorreu uma lágrima e partiu... Dela, não se sabe mais nada...

domingo, 26 de julho de 2009

- Fala-me dele, falas?
- Está bem, mas com uma condição: não me interrompas...


Ele ria com os olhos... estava sempre a rir com os olhos... a vida para ele era uma festa vivida a cada dia. Nunca se exaltava, trazia consigo a calma da brisa morna de um fim de tarde de Verão. Tinha sempre uma palavra meiga... uma piada... Cheirava a perfume e chamava-me "Voca". Só ele me chamava assim... Quando passeava com ele, os amigos pareciam saltar, quais pipocas, de todos os cantos e recantos da rua. Todos gostavam muito dele... Então dizia-me: "Os amigos são um tesouro!"... e os olhos a rirem à gargalhada... Foi ele que me ensinou a ter o coração grande. Assim como no desenho. Tão grande que às vezes nem cabe dentro de mim. "Faz o Bem, apesar de tudo, Patanisca" - dizia-me... e ria... ria muito... com os olhos... e fazia-me rir também. E por causa dele hoje sinto muitas coisas e sou muitas coisas. E digo e mostro o que sinto e sou. Tenho muitas saudades dos olhos a rirem muito e dos abraços quentes... tenho muitas saudades de rir com os olhos...
E por causa dele eu amo. Todos os dias aprendo a amar. O amor aprende-se. Não basta senti-lo. O amor não tem tempo, vive dentro de nós e vai-se aperfeiçoando. Nenhum caso de amor é exemplo para nenhum outro. Se há coisa difícil de explicar é porque se ama alguém, mas também, não são precisas razões para amar. Ama-se e pronto. Às vezes nem se quer, quase nunca... E foi assim quando os lábios se tocaram. Foi como se as duas almas se tivessem misturado tanto que era como se fossem uma só... porque só os meus lábios são iguais aos teus...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Hoje é um dia triste...
O vazio ocupou todos os espaços
e na casa grande e deserta
resta agora apenas o eco dos passos...

Hoje é um dia triste...
duplamente triste...
preciso o teu colo mais do que nunca
só para ficar assim... calada

sábado, 18 de julho de 2009

Às vezes basta um pequeno gesto para finalmente entendermos o que ainda não tínhamos entendido...

Apesar de as coisas terem estado sempre à nossa frente...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Continuo a fingir, dia após dia, que sou uma pessoa normal desde que foste embora...
Pois não sou. Paciência para todos aqueles que querem que eu seja. Não consigo ser.
Os sorrisos escondem-se em memórias que não quero apagar, mas que o tempo se encarrega de ir guardando, aos poucos.
Sinto tanta falta de ti que nem sei dizer em palavras como é...
Acordo muitas vezes na noite escura a sonhar-te ainda aqui...
E quando acordo mais valia ter continuado a dormir.
Porque ainda não sei perder-te. Logo tu, meu Rei, meu Deus, meu tudo.

domingo, 12 de julho de 2009


Sabias a sal e eu fui feliz naquele momento...
Fui feliz quando os teus olhos sorriram para mim a dizerem coisas caladas há muito tempo...
Nunca serás breve porque permanece na minha pele o teu cheiro, mesmo sem querer...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A Lua Cheia mexe comigo... ainda me deslumbra... gosto de ficar a olhá-la demoradamente...
E eu sei que isto soa a piroso mas paciência, porque é mesmo assim.
E já poucas coisas me deslumbram... já poucas coisas mexem comigo...
Mas quando está Lua Cheia parece que fico assim meia nua. O meu corpo despe-se, frágil ao seu lado misterioso. E então desgraço-me, escrevo coisas com o vocabulário da nudez, de mãos dadas contigo dentro de mim. Como esta, por exemplo:

"Ainda me pareces real e ainda sinto o cheiro a fruta fresca no teu sorriso...
Se um dia regressares que seja aos meus olhos, brilhantes de te verem...
Se um dia regressares que seja assim devagar, de respiração pausada e meiga...
Se um dia regressares, meu amor, que eu te regresse também,
dedilhando baixinho no piano melodias breves mas febris..."




segunda-feira, 6 de julho de 2009

As horas não páram.
Vão correndo, pontuais, incansáveis e determinadas...
Levam-nos tudo.
Todos os momentos, tristes ou de contentamento, mas que jamais se recuperam...
Tudo morre a cada minuto. E sempre nos esquecemos de dizer adeus...